Há tempos não posto nada e confesso que há tempos não conseguia imaginar sequer o que escrever. Ou será que eu realmente não queria escrever nada, uma vez que a inspiração é um estado de espírito inexplicável e para escrever é preciso muito mais transpiração? Não sei dizer. Na verdade sei menos a cada dia e o tempo cronológico passa e deixa meus paradigmas jogados ao solo. Acredito que até mesmo o sentido da palavra paradigma esteja para mim deturpado, uma vez que a cada dia me deparo com novas e paradoxais situações das quais jamais imaginaria antes deparar. O que fizeram com meus paradigmas? O que eu fiz com meus paradigmas? O tempo seria então um período contado a partir de ponteiros inexatos e que nos traz idade, mas nos leva os padrões que construímos? Não que eu acredite que os seres humanos internamente sigam sempre os mesmos padrões estabelecidos de maneira inconsciente e coletiva, mas ao menos tem em si regras internas e configurações sobre o funcionamento das coisas. Verdade? Pura ilusão: Somos desconfigurados a cada dia e necessitamos de uma nova adaptação, ateando fogo a paradigmas ou ingressando no ostracismo se quisermos mantê-los ...
Não proclamo minha desilusão ao tempo que passa nem aos meus paradigmas incinerados, mas gostaria de um tempo sem ponteiros para me adaptar à nova realidade imposta, mas o próprio tempo se encarrega de nos levar a utopia, ou de nos fazer escondê-la ...
É tempo de mudanças, diz-se ... vou, pois, seguindo essas mudanças e quanto aos meus paradigmas, ora, até o exato momento em que se posiciona o ponteiro eles tentam se manter. Resta saber até quando.
Marcel Duchamp, A fonte