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terça-feira, 20 de setembro de 2011

"My life after hate" ou a capacidade do auto-perdão


My life after hate, obra inspiradora de Arno Michaels


O mundo é menor do que pensamos. Os sentimentos e as necessidades humanas são divididos por todos e tenho mais certeza disso a cada vez que conheço um novo amigo, a cada vez que aprendo uma coisa nova com pessoas incríveis que podem viver a uma quadra de casa ou no Extremo Oriente. Só existem fronteiras para quem as impõe...

Falando em fronteiras, acho que não as tenho há muito tempo, ao menos naquilo que alcanço com meu pensamento. Criar muros e cercas não faz parte de mim, ao menos não pretendo que faça. Pois bem, o fio da história que quero contar começa com uma discussão há uns três meses em uma página no Facebook sobre a paz. Sim, eu estava discutindo com um paquistanês no mal sentido da palavra discussão, pois ele me acusava de sionista e cego ao defender a existência de Israel e da negociação com os palestinos, enquanto ele afirmava que os judeus não mereciam viver. Isso tudo, em uma página internacional, onde discutíamos a paz. Foi demais pra mim, tanto que usei todos os argumentos que o meu Inglês pode me fornecer para falar sobre a igualdade e perdi, por fim, a paciência. No meio disso tudo, um norte-americano que eu não conhecia me contatou e disse que gostava da forma com que eu articulava aquilo que eu acreditava. Seu nome era Arno Michaels e eu não sabia realmente quem ele era. Nós nos tornamos amigos no Facebook. Ao longo do tempo percebi que ele publicava muitos pensamentos interessantes de um site específico, com um nome bem sugestivo Life after hate... o nome soou um tanto quanto poético e por isso decidi investigar, por curiosidade inicialmente e depois para conhecer de perto tudo o que eu havia descoberto ali. Por acaso descobri que Arno havia escrito um livro sobre sua vida e isso estava OK, pois muitas pessoas fazem isso. No entanto, tinha algo diferente do convencional ali: Arno era um ex-skinhead defensor do Orgulho Branco, que por anos agiu violentamente contra qualquer minoria não-ariana em Milwaulkee, no meio-oeste americano: negros, judeus, latinos e gays eram aberrações a serem combatidas, pois segundo a filosofia de seu grupo, tudo isso ia contra a ameaçada civilização branca. No momento em que nos tornamos amigos, Arno já era uma pessoa que se dedicava a sua organização, pregando justamente o contrário: o amor e a união entre as “diferentes” pessoas, realizando palestras em escolas, universidades, parques e em quaisquer outros lugares em que uma mente vazia poderia ser preenchida com pensamentos terríveis, como há muitos anos a dele fora. Falando com ele a respeito, pois até então, na vida real, nunca havia ouvido uma história assim, que ia de um extremo ao outro, do ódio ao amor, literalmente, ele me presenteou com um exemplar de seu livro, para que eu entendesse, a partir da sua própria história escrita, todo o seu processo de mudança.

Comecei a ler My life after hate em uma sexta-feira à tarde e no sábado me vi de pé no ônibus lendo essa incrível história real, corajosa por ser exposta, vitoriosa por ter deixado para trás a violência. Continuei lendo o livro e terminei muito rápido, pois havia algo de universal nessa história, algo que remetia ao vazio que pessoas preenchem ou não, com coisas saudáveis ou não, mas que levam, infelizmente, uma parcela delas a conduzir suas vidas a um buraco negro. No caso de Arno e seus “amigos”, eles levaram suas vidas e a de outras pessoas a um abismo um dia, e hoje como o personagem Holden Caulfield em “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger, recolhe tantas outras vidas de perto do precipício e tenta por luz e preencher os vazios nela existentes, impedindo que elas despenquem.

Eu leio muitos livros, mas creio que a ficção por mais que imite a realidade, não é totalmente realidade. Escrevi a Arno sobre seu livro e o quanto ele mexeu comigo, pois meus paradigmas foram revirados e mais uma vez, a vida me surpreendeu com coisas que me fazem ainda crer que vale a pena continuar escalando a montanha e retirando as pedras do caminho, como escreveu um dia Fernando Pessoa. Eu lhe disse o quanto o poder de suas palavras e o poder de ter perdoado a si mesmo poderia levar pessoas do mundo todo a rever sua vida e deixar sua condição de espinheiro para seguir em frente. Falei que mesmo que a sua história tivesse um contexto específico contado em seu livro, ela era universal. Eu o agradeci por um dia ter me adicionado como amigo, pois em mundo dominado pela barbárie, pela futilidade e pela alienação, pessoas que realmente nos acrescentam algo são raridades.

Hoje estou escrevendo sobre esse amigo, sobre sua história, sobre sua obra após a reconciliação consigo mesmo, pois isso tudo representou muito para mim, no sentido que também valorizo muito o valor do perdão, em especial aquele que concedemos a nós mesmos. Quero reler o livro, assim como quero colaborar com o seu Projeto, mesmo que eu esteja aqui no interior do Brasil, a milhas de distância. Arno me convidou para escrever na revista mensal publicada pela organização e isso me deixou muito feliz, pois nada melhor do que a sensação de reconhecimento e mais, a sensação de que nossas ações não são apenas coisas banais, que não refletem em nada no mundo enorme que temos ao alcance de nossas mãos e que insistimos em não enxergar e cair no ostracismo.

Finalizo afirmando que sim, sou um idealista! Não tenho mais 18 anos, mas ainda penso em mudar o mundo, pois se deixasse de pensar assim, eu é que teria sido modificado por ele.

Obrigado novamente a Arno Michaels, um novo grande amigo, pelos seus ensinamentos.



Para aqueles que querem saber mais sobre a organização, aqui vão os links do site e da página no Facebook:





Arno Michaels, um grande e sábio amigo
 
“What a delight it is to be alive!” ou “Que prazer que é estar vivo!”

Arno Michaels, em 18/09/2011. Trecho de uma mensagem a mim enviada no Facebook.

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