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segunda-feira, 9 de julho de 2007

Babel


Eu me vi hoje vivendo em uma Babel. Assisti ao filme do diretor Alejandro González-Iñárritu e confesso que fiquei impressionado, ao enxergar coisas de um foco até então não visto. Pessoas de diferentes “mundos”, falando diferentes línguas, com realidades sociais, econômicas e religiosas completamente diferentes ... e diante disto a grande questão é: Seriam elas capazes de se comunicar? A japonesa surda-muda, o casal de americanos em meio um suposto ataque terrorista no Marrocos, a babá ilegal mexicana cruzando a fronteira americana: Todos seriam capazes de dialogar? A questão é esquecer as “diferenças” e tentar chegar ao íntimo do outro em uma sociedade mundial globalizada que não nos permite isso. Valores individuais são positivos, contanto que não se leve isso à fronteira do egoísmo ... o ser humano não é uma ilha e pode chegar ao outro, pode compreender o outro. O grande problema de nossa Babel moderna não é fato de se falar em uma língua diferente, mas em se tentar compreender o outro apesar de qualquer coisa. A Babel do século XXI foi construída em sólidos alicerces e é bem difícil de ser destruída. Einstein disse que o ser humano chega até à Lua, mas não ao seu semelhante. Essa frase resume tudo ... A rica garota japonesa incompreendida em seu universo não se difere nem um pouco do garoto marroquino que usa a arma como um brinquedo... os seres humanos clamam por diálogo, por serem compreendidos, respeitados, seja em nível coletivo ou individual, conscientes ou não de sua condição. Nossa Babel continua crescendo e ao contrário de sua versão bíblica, a incompreensão não é uma barreira, mas um alicerce para o seu desenvolvimento.


"A Terra girou para nos aproximar
A Terra girou para nos aproximar,
girou ao redor de si mesma e dentro de nós,
até que finalmente nos uniu neste sonho
como foi escrito no Simpósio
Noites passaram, neves e solstícios;
O tempo passou em minutos e milênios
Uma carreta que ia para Nínive
Chegou a Nebraska.
Um galo cantava distante
Na pré-vida de nossos pais
A terra girou musicalmente
Levando-nos a bordo;
Não parou de girar um único momento,
Como se tanto amor, tanto milagre
era somente um provérbio escrito há muito tempo
entre as partituras do Simpósio"

(Eugenio Montejo - Caracas, Venezuela, 1938)

Foto: “A torre de Babel”, de Pieter Bruegel (1563)

Um comentário:

Luis Augusto disse...

Nossa, seu texto sobre "Babel" é impressionante. Com ele pude ter uma melhor visão sobre o meu entendimento do filme. Assisti "Babel" hoje novamente e pude apreciar a verdadeira mensagem que ele realmente passa.

Adorei seu texto. Parabéns de novo!