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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Terror



Depois de tanto tempo sem ao menos dar uma olhadinha no meu blog, resolvi escolher um tema para iniciar uma nova fase de publicações. Eu poderia ter escolhido algo menos denso, mas como o ato de escrever, exorciza nossos fantasmas, é justamente esse que tenho que exorcizar agora.

Ao ler e me chocar novamente com notícias sobre atentados essa semana, sendo os noruegueses as vítimas da ocasião, não deixei de expressar o que sempre me vem em mente ao ler notícias assim: Quanto vale um ser humano?

Eu escrevo assim, de forma seca pela constatação pura e simples de que o terror(ismo) e os assassinatos brutais em prol de uma causa (?!) varrem o mundo constantemente e vão (infelizmente) continuar varrendo enquanto seres humanos habitarem a Terra. Falo isso, contrariando minha visão idealista, porque as pessoas não aprenderam e talvez nunca aprenderão a mais óbvia das certezas, que é a de que todos os seres humanos valem exatamente o mesmo tanto, pouco ou muito, não importa, mas tem o mesmo valor diante da humanidade, ao contrário do que pensam radicais de todos os segmentos.

Recentemente fui acusado de sionista por um paquistanês que me tratou grosseiramente diante da minha defesa da igualdade dos judeus perante os outros seres humanos, enquanto ele afirmava em seguida que apedrejar mulheres vivas era uma questão religiosa e cultural. Isso soa absolutamente incoerente para mim! Fui acusado de pró-Islã-Palestina por um israelense quando condenei os ataques israelenses a um navio que levava ajuda à Gaza alguns meses atrás e de anti-americano por um Republicano do Texas ao condenar o apoio dos norte-americanos às ditaduras de direita que trouxeram terror à América Latina durante a Guerra Fria ... será que os erros alheios são condenáveis, mas nossos próprios erros, os erros cometidos em prol das causas que apoiamos são justificáveis mesmo que brutais? Eu apenas queria mostrar que assassinatos em Tel Aviv, Nairóbi ou Londres tinham o mesmo peso e que isso não era uma questão de nacionalidade, mas sim da falta de aceitação de outrem ... fico indignado quando massacres na África viram notícias de pé de página e um assassinato na Escandinávia ganha comoção mundial. Nessa questão eu não estou minimizando os ataques em Oslo, mas chamando atenção para que um ataque em Darfur ou Ruanda tenha o mesmo peso ... a crueldade é algo interno ao ser humano e não nascemos com uma nacionalidade, apenas nascemos humanos, portanto somos supostamente iguais até que alguém nos imponha um rótulo... e esse rótulo tem um preço.

Ser um cidadão do mundo em um mundo que não trata igual a todos é perigoso, mas é assim que me sinto e não consigo me posicionar de forma diferente. Amos Óz publicou uma obra a partir de uma palestra sua na Alemanha intitulada “Como curar um fanático”, inúmeras ideias interessantes sobre o mal do fanatismo ... mas eu me pergunto mesmo assim: Fanatismo tem cura? Neo-nazistas, Sionistas, Fundamentalistas cristãos ou islâmicos buscam uma cura para suas crenças? Infelizmente vejo que não, creio que não e penso que o mundo ainda vai continuar se perguntando: Onde será o próximo ataque? Onde ocorrerá um novo massacre? Onde inocentes vão pagar por erros que na maioria das vezes não são seus? E a história se reinicia, nas manchetes ou notícias de pé de página ... elas mantem seu ciclo pelo mundo que não sabe rir de si mesmo ou chorar os mortos que não consideram seus.

O terror nasce mais da indiferença que do ódio em si ...


Imagem: O Grito (no original Skrik), do norueguês Edvard Munch (1893)

4 comentários:

Lenin Araujo disse...

Caro Carlos: Suas palavras são imbuídas na possibilidade de reversão das mazelas humanas. Me servem de alento neste mundo insano.

Luis Augusto disse...

Carlos, a cada nova postagem em seu blog, você me surpreende mais!!! Adoro sua visão sobre o mundo e o modo como você trata assuntos de acontecimentos atuais com tanta facilidade. Isso é uma forma de mostrar às pessoas que possuem alguma aversão (ou preconceito em geral) à algum ser humano que isso é errado, e que temos que amar a todos sem distinção...
"Somos todos uma única raça: A raça HUMANA!"

Henrique Ramalho disse...

A indiferença, o preconceito e o ódio são as sementes para o terror! Adorei o texto!!

Márcio disse...

Uma explosão de humanidade e indiferenacia, uma visão atual de que ainda existe apartheid...da nossa indiferença é que se alimenta o ódio e o terrorismo...