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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Onzes de setembro





Logo teremos mais um 11 de setembro... todos no mundo se lembram hoje o que essa data significa. É uma data triste e que remete ao dia que o país mais poderoso do mundo foi atacado. Mais do que isso, remete ao dia em que milhares de pessoas em território norte-americano foram mortas em nome de... de que? Ser morto em prol de uma causa, mesmo que não se esteja diretamente envolvido nela, tem maior valia do que a morte dita natural? Terroristas islâmicos lideraram o ataque ao grande inimigo no Oeste... não há como não pensar em algo que o fanatismo ofusca: As pessoas que ainda choram seus mortos em Nova York eram realmente culpadas por morarem no grande representante da civilização ocidental? Aos olhos fanáticos sim, aos meus olhos, são vítimas cujos entes queridos recordarão eternamente esse fatídico dia...
Nesse mesmo dia, em 1944, um país ocidental, maior aliado dos EUA, bombardeou a Alemanha. A Força Aérea Britânica bombardeou a cidade de Darmstadt, já quase no fim da investida dos Aliados na Europa contra as forças nazistas... vencer Hitler era preciso, mas ainda assim penso: Todos os 12.000 mortos nesse 11 de setembro eram culpados pela destrutiva política nazista de seu país? Muitas pessoas inocentes choraram seus mortos nesse mesmo dia no interior da Alemanha... muitos ainda choram.
A mesma Alemanha nazista que tantas mortes causou em suas invasões e em seus campos de extermínio, nesse mesmo dia 11 de setembro, evacuou o gueto judaico de Minsk, na Bielo-Rússia, como fez em tantas outras cidades da Europa, mandando para a morte pessoas que pagavam o preço de terem nascido judeus, ciganos ou se tornado comunistas... essas terríveis mortes ainda marcam o mundo. Milhões ainda choram seus mortos... o Holocausto está presente mesmo décadas depois em nossas memórias.
Há não muito tempo, em 11 de setembro de 1982, forças internacionais que auxiliavam na segurança de refugiados palestinos no Líbano deixaram o país em plena invasão israelense... o que se seguiu nos próximos dias foi o que se conhece hoje por Massacre de Sabra e Chatila, em que as forças de Israel massacraram 3500 pessoas no sul do Líbano. Em nome de que? Disputas territoriais? Diferenças religiosas? Defesa? O grande fato é que ainda hoje palestinos e libaneses recordam seus mortos e os israelenses, que tiveram finalmente sua nação logo após a 2º Guerra Mundial, ainda não conseguiram entrar em acordo algum com seus vizinhos. Então, me questiono: Será que estão em conflito porque ainda choram seus mortos nos campos de concentração, da mesma forma que alemães choram seus mortos em bombardeios aliados e norte-americanos choram seus mortos no ataque terrorista? Como já disse antes, as pessoas, infelizmente procuram chorar somente por mortos que consideram seus... e gritam sua dor ao mundo em uma atitude de auto-piedade. Apenas a sua própria, única e insuportável dor conta a seus olhos...
Os mesmos norte-americanos que choram o “seu 11 de setembro”, nessa mesma data em 1973 impuseram um golpe militar no Chile, que levou a milhares de mortos e instaurou uma ditadura tal qual em outros países como Argentina, Brasil e Uruguai, gerando assassinatos, desaparecimentos e tortura. Até hoje os chilenos se dividem por esse golpe que tirou do poder um líder acusado de comunista pelos norte-americanos por implantar políticas de auxílio ao povo... será essa data lembrada pelos norte-americanos também? Ou ela pertence unicamente aos chilenos?
A data em si, 11 de setembro, não passa de uma mera convenção cronológica... o fato é que, por causa da religião, da política, do preconceito, do dinheiro, da cegueira, da intolerância, milhões choram seus mortos pelo mundo ... e nenhuma chama em nenhum lugar além de suas casas será acesa para lembrar quem se foi injustamente (há morte justa?) No Chile ou no Líbano, na Alemanha ou em Israel, nos EUA ou na Bielo-Rússia, pessoas chorarão seu 11 de setembro e, pelo mundo afora, a cada nova manhã, milhões continuarão se lembrando de um dia perdido no passado, marcado somente em seu calendário, que mudou completamente suas vidas e que ninguém mais, além de si mesmos, irá recordar.

Foto: Palácio de La Moneda, Santiago (Chile), em 11/09/1973.

4 comentários:

Márcio disse...

Linda crônica, só sentimos realmente aquilo que nos afeta diretamente, temos uma cultura egocêntrista que não nos permitir viver de modo corretamente humano...quando vamos nos livrar dos preconceitos e a ganância sem limites que nos faz ficar cego a ponto de não enxergarmos o que é o mais importante... a vida do nosso próximo, a vida de um ser humano!!! Afinal somos seres humanos?

Pedro Vasconcelos disse...

Carlos, é como você disse: "Cada um chora por seus mortos..." infelizmente esse ainda é o comportamento mais comum em uma situação de tragédia como as citadas.

Mas vamos um pouco mais a fundo. O "ser humano" é considerado o único animal racional, portador de inteligência e inverso a isso, é também o único que prejudica e fere (a ponto de matar) o seu igual por motivos fúteis e banais.

Essa série de atendados e atrocidades (série, porque mesmo tendo um determinado período entre cada uma, coexistiram em uma mesma sociedade, no período contemporâneo) devem ser pensados e repensados não só pelos "donos dos mortos", mas por toda a civilização desse período.

Imaginar que nesse momento alguém igual a você pode estar sendo torturado, e possivelmente assassinado em alguns instantes é perturbador. Ainda mais por levianismo, em vão.

Realmente, nada justifica nenhuma morte interrompida antes do seu tempo e novamente volto a dizer: esse ser humano intitulado como inteligente deveria raciocinar mais e chorar não apenas pelos "seus mortos", mas pelos mortos de toda uma sociedade, a qual faz faz parte, constrói e diretamente ou indiretamente interfere todo tempo, a partir do momento que sai da cama até a hora que vai dormir.

Quem sabe assim, em um futuro (espero eu) não tão distante, possamos usar sem receio algum o título de "animal inteligente".

Marcela disse...

Você escreveu um belo texto, Carlos. Concordo com você, pessoas inocentes mortas por causa de conflitos entre grupos que visam o poder político, econômico e religioso não constituem um capítulo novo na história da humanidade.
Atualmente, segundo a ideologia estadunidense, terrorista é o outro, aquele que os ataca e/ou impede a realização dos seus interesses; a legitimidade refere-se apenas aos seus atos, logo é legítimo fazer o uso de duas bombas atômicas contra um povo rendido na Segunda Guerra Mundial e, assim, cometer o maior ataque terrorista da Idade Contemporânea.

Luis Augusto disse...

Belo texto Carlos... Concordo plenamente em suas palavras. As pessoas estão ficando cada vez mais gananciosas e egoístas, olhando somente para o seu nariz sem se preocupar com o próximo. Mas creio que os "choros" em cada 11/9 não é somente pelos seus entes queridos que se foram, mas também há um choro de remorso e arrependimento (culpa) pelo preço que estão pagando por um erro do passado.