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domingo, 10 de junho de 2007

Hoje


Hoje enxerguei o mundo com olhos estranhos. Hoje, mais que qualquer outra ocasião me inseri num recorte temporal e me vi sem referências. Hoje eu tentei enxergar a vida de forma como se eu nada conhecesse, sem lançar mão do meu conhecimento de mundo. Hoje eu experimentei o sentimento do não-pertencer, do não-compreender do não se importar. Ao contrário do que se possa pensar, não foi um dia ruim. Hoje desci do “leão que sempre cavalguei” como compôs Adriana Calcanhoto e me vi só, mas não solitário. Hoje tentei compreender o quão efêmera são as coisas e vi o quanto as linhas entre a alegria e a tristeza são cruzadas e não paralelas.
Hoje me sinto feliz. Poderia perguntar o porquê? Sim. Deveria? Não, claro.
Há coisas sobre o qual não se deve pensar, apenas sentir ... há muitos mistérios sobre o qual não se sabe e não vou citar Shakespeare para não cair no lugar-comum. Simplesmente existem coisas sobre o qual perde-se tempo em tentar achar um fio racional.
Hoje meus olhos foram tão longe, tão longe que chegaram o mais perto de mim que eu já pude chegar.
Hoje foi um dia sui generis.
Hoje senti o gostinho daquela famosa frase de Clarice Lispector "O melhor ainda não foi dito, o melhor ainda está nas entrelinhas".
Hoje penso no hoje.
Hoje me sinto sem raízes.
Hoje me sinto bem.


Inverno - Adriana Calcanhotto
Composição: Adriana Calcanhoto/Antonio Cícero


“No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial

Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois

Pouco antes de o ocidente se assombrar”

Hoje eu ouvi uma canção

Foto: "Raízes", de Frida Kahlo

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