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sábado, 23 de junho de 2007

Liberdade


Já há algumas semanas eu me questiono cada vez mais sobre o sentido de palavras como justiça, liberdade e paz. Já há anos que eu me indigno com a humanidade e luto diariamente para que permaneça em mim esse sentimento de indignação. Há coisas que por mais comuns que pareçam, nunca devemos nos acostumar e devemos sempre manter vivo o sentimento de perplexidade. Desses pensamentos surgiram uma reflexão sobre a liberdade ...

Liberdade

A história da humanidade foi sempre marcada por lutas em prol da liberdade. Ainda hoje milhões de pessoas lutam por seus direitos em diversas partes do mundo. Parece incrível que em pleno século XXI seja ainda negada a tantas pessoas uma necessidade tão básica quanto a de ser livre. Há ainda muita luta a ser realizada, mas uma luta sem armas, tal qual fizeram alguns mártires que lutaram incessantemente pela liberdade em suas nações
Não poderia nunca deixar de citar inicialmente o grande Mahatma Gandhi, principal líder da independência indiana, que durante anos lutou contra o domínio britânico, realizando o que ficou conhecido como resistência passiva. Lutar por seus direitos sim, mas sem derramamento de sangue. Gandhi liderou em 1930 uma longa marcha em direção ao mar, de onde os indianos retiraram um pouco de sal em protesto aos altos impostos pagos sobre o sal que os ingleses retiravam da própria Índia. A marcha soa até mesmo poética e revela ideais de um espírito elevado, alguém para quem a liberdade só fazia sentido quando não dependesse da morte de outros seres humanos, tanto que Gandhi disse uma vez: “A vida é a maior de todas as artes”. Após a conquista da independência pela Índia em 1947, Gandhi foi assassinado por um nacionalista hindu que não aceitava, assim como milhões de indianos hindus, o diálogo estabelecido por Gandhi com os muçulmanos indianos.
Assim como Gandhi na Índia, o pastor negro Martim Luther King liderou uma resistência pacífica nos Estados Unidos a partir da década de 50, buscando os mesmos direitos aos negros que aqueles dados aos brancos. Na América concebida como um sonho de liberdade existia ainda em pleno século XX, uma parcela da população, os negros, que não gozavam do “sonho americano”. Luther King liderou protestos e boicotes a transportes públicos e estabelecimentos públicos no sul dos EUA, além de marchas que mobilizaram centenas de milhares de pessoas. Sua estratégia de luta pacífica resultou em 1964 na Lei dos Direitos Civis que deu aos negros americanos os mesmos direitos que os dados aos brancos. Em 1963, durante uma manifestação em Washington proferiu em seu discurso a sua mais famosa frase: “Eu tenho um sonho, que um dia meus quatro filhos possam viver em uma nação onde eles não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”. Luther King foi assassinado por um branco em 1968.
Nelson Mandela foi tal qual Luther King um ativista pelos direitos dos negros. Na África do Sul sob o regime do apartheid, a minoria branca, que correspondia a pouco mais de 10% da população detinha os poderes e a economia do país e a maioria negra não possuía quaisquer direitos civis estabelecidos perante a Constituição. Nelson Mandela e outros líderes negros lideraram protestos e boicotes a exemplo de Gandhi e King e de forma pacífica lutaram pela igualdade racial em seu país. Mandela sofreu muito em nome de suas convicções, passando quase 30 anos preso, sendo libertado apenas em 1990, com o fim do regime. Alguns anos depois assumiu o governo de seu país, então uma democracia multirracial e é hoje uma das personalidades mais respeitadas do mundo.
O princípio da luta sem armas teve seu lugar também no Brasil, na figura de um homem que nem sempre é lembrado pelos próprios brasileiros, mas é internacionalmente reconhecido como um mártir: Chico Mendes. Esse líder seringueiro acreano lutou pelos direitos dos povos da floresta e contra o desmatamento da Amazônia, ideais que se chocavam com os interesses de alguns grupos poderosos de fazendeiros. Durante sua vida, Mendes denunciou diversas vezes agressões à floresta e por conta disso foi assassinado em 1988. Foi sem dúvida um dos maiores brasileiros e alguém que incondicionalmente lutou pelos direitos de seu povo.
Poderia-se citar ainda muitas lideranças, pessoas que lutaram incessantemente contra a injustiça e que tinham como princípio a paz. Em seus ideais estavam a justiça e a liberdade, nunca a morte e a violência. Gandhi, Luther King, Nelson Mandela e Chico Mendes foram certamente alguns dos maiores exemplos de que a paz deve ser alcançada a partir da paz. Ironicamente três deles foram assassinados e um passou ter décadas em uma prisão, pelo simples fato de lutarem em prol da liberdade. Talvez toda essa barbárie se explique pelo fato de grande parcela da humanidade não estar ainda preparada para encarar a paz como uma realidade cotidiana. A história do mundo foi construída sobre guerras e as civilizações foram plantadas sobre sangue. Em pleno século XXI a linguagem das armas é ainda a linguagem corrente. Em pleno século XXI líderes (líderes de fato?) vêem nas armas a grande maneira de “espalhar a liberdade”. Nada parece ser tão contraditório e tão desumano. Nada é mais triste do que constatar que em nome da liberdade tanto sangue se derrame ainda em nosso mundo “civilizado”.

Foto: Um chinês desconhecido barra os tanques que massacraram milhares de manifestantes na Praça da Paz Celestial em 1989. Longa vida aos heróis sem armas!

2 comentários:

vanbecker disse...

Compartilho da sua indignação.
https://www.facebook.com/vanessa.becker.5686

vanbecker disse...

compartilho da sua indignação.
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