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sábado, 2 de junho de 2007

Caminhos


Guimarães Rosa escreveu uma vez: “Só existe um caminho: caminhar para dentro de si mesmo”. Eu tenho repetido essa frase em minha cabeça nos últimos dias e devo dizer que o sábio escritor estava corretíssimo. Caminhar para dento de si, driblando obstáculos e tomando desvios é a grande conquista que o ser humano deve alcançar enquanto ser humano.
A longa jornada para dentro de si mesmo começa quanto se toma consciência de quem se é se aceita como tal. Para muitas pessoas isso ainda é uma utopia, já que tentam seguir o padrão geral ditado pela cartilha do “como se deve ser”. Não existe nada pior do que se anular em virtude de não de não se aceitar e tentar ser exatamente aquilo que não se é. Não que os seres humanos não sejam mutáveis, mas existem coisas que são talhadas na sua essência. A não-aceitação e conseqüente não-conhecimento de si já são o primeiro obstáculo não transposto da jornada: no caminho isso nada mais é que um grande precipício que não pode ser transposto em virtude da ponte não construída.
É claro que se pode se atirar no precipício, mas isso raramente tem volta pois a tendência é distanciar-se ainda mais de si: essa queda se chama alienação.
Dentro de nós mesmos podemos passar por caminhos tortuosos, caminhos íngremes .. podemos nos deparar com uma encruzilhada e ter que decidir por qual caminho seguir ... nesse ponto há caminhos que têm um retorno logo à frente em caso de erro de percurso. Mas há também caminhos sem volta.
Pensando em tudo isso eu tento seguir a estrada e acredito que a ponte sobre o precipício já ficou para trás ... mas sei ainda que há muitos obstáculos e pior: muitas encruzilhadas. Às vezes tenho muito medo de me encontrar com 60 anos depois de ter percorrido um longo caminho e me lamentar por ter virado uma curva errada em um determinado ponto e ter percorrido até um lugar em que não gostaria de chegar. Eu tenho medo de não encontrar o retorno dessa estrada. O que determina em nossa vida que em algum ponto do caminho devemos tomar à direita ou não à esquerda? Seria isso uma capacidade inata? Não sei realmente responder ... só sei que nosso caminho em direção a nossa essência nunca acaba, mesmo depois da “morte” (morte ?). Sei que se escolhemos o nosso real caminho não precisamos procurar mais por retornos e sim seguir por belos lugares que nos levam cada vez mais a nós mesmos. Quanto mais próximo chegamos, mais belas são as paisagens já que estamos bem conosco mesmos e temos conhecimento para escolher as melhores estradas ...
O longo caminho para dentro de si não tem fim, mas em determinado momento alcança-se lugares onde a caminhada não é um fardo, mas uma dádiva ... esse caminho distante ainda de ser alcançado é como a bela estrada que às vezes vemos nos nosso sonhos ...

“Pedras no caminho? Guardo-as todas para construir meu castelo”
Fernando Pessoa

E sigo meu caminho em busca de mim mesmo. Dispenso a bússola: acho que as estrelas estão lá como uma forma muito mais bela de nos mostrar a direção a seguir ...


By: Carlos Eduardo Ramalho

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