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domingo, 6 de maio de 2007

Em busca da terceira margem


Uma simples leitura do conto “A terceira margem do rio” de Guimarães Rosa abre um leque de milhões de possibilidades de análises e comentários a serem considerados. É algo brilhante, único. Confesso de antemão que não pretendo fazer nenhuma análise com base em teorias ou na crítica literária tradicional, visto que a profundidade da obra de Guimarães me levaria a um mundo inteiro de análises em cada mísera palavra metodicamente colocada por ele. Sendo assim, faço valer meu sangue da grande bota e declaro anarquia à ditadura da crítica, adotando o meu método de observar o texto. Aliás, criar seu próprio mundo e se guiar segundo sua própria visão de universo é um tema central nessa pequena história.
Eu sempre me perguntei qual seria essa tal de terceira margem do rio. Esse local além do conhecimento geográfico em que se posta o pai em busca de algo dentro de si mesmo. Dentro da canoa ele não aporta em nenhuma das duas margens e se fecha em si mesmo com que buscando se auto-conhecer. Ele se transporta a um universo paralelo onde uma terceira margem transcendental se instaura. Uma margem profunda que se não se limita com nada e que não consta nas cartas hidrográficas. Uma margem em que nós somos nós mesmos e caminhamos em direção ao nosso eu mais profundo, um local onde a leveza do ser é perfeitamente sustentável (que me perdoe Kundera).
Eu, particularmente, sigo sempre em busca de uma terceira margem, não para aportar, pois isso seria inconcebível, mas para “estar”. Transcender o previsível da existência não é um trabalho fácil e digo mais: é uma tarefa para poucos ... a terceira margem, margem profunda é bem difícil de se atingir e a maioria acaba sempre aportando sua canoa na margem direita ou esquerda: é preciso mergulhar fundo e permanecer firme, a terceira margem deve ser conquistada e uma vez transcendida, descobre-se o maior segredo que envolve a existência humana, que não é nada mais que viver.

Link para o conto “A terceira margem do rio”:
http://www.releituras.com/guimarosa_margem.asp


Foto: Fim de tarde às margens do Rio Grande, bem aqui na minha terrinha, Guaraci-SP

4 comentários:

Edmilson Borret disse...

Bela leitura desse conto maravilhoso, Carlos! Admiro sua simplicidade direta diante de temas tão profundos. Outros tentariam o velho discurso empertigado e pedante de sempre que muito fala mas pouco diz. E legal perceber que sua busca pela terceira margem se faz de maneira tão sóbria e calma.

"Nem sempre a verdade está onde todos procuram. Nem aqui, nem lá. Buscar a terceira margem de um rio é procurar o caminho que ninguém escolheu ainda."

Parabéns pelo texto!
Abração.

Henrique Ramalho disse...

Adorei o texto. Também estou em busca da terceira margem do rio ...

Luis Augusto disse...

Nossa Carlos q texto perfeito... me surpreendi quando li o conto "A terceira margem do rio" e me surpreendi agora tambem com sua profundidade que deixou o texto perfeitamente completo!!! PARABENS!!! A cada dia que passa vc se supera em seus textos...

Unknown disse...

Este texto realmente me faz ter forças para seguir o meu caminho e nunca pensar em parar na margem direita ou esquerda mesmo com a dificuldades,saudades,etc. A gente sempre tem que estar buscando a terceira margem, sempre. Lindo texto. Parabéns. T adoro. Bjocas.